Quando os filhos são crianças, os pais os têm sob suas asas de proteção e cuidado: podem levá-los e buscá-los na escola, nas atividades extracurriculares e nos passeios. Além disso, na infância os filhos são naturalmente mais abertos a contar suas angústias e dificuldades, pedir ajuda quando têm medo, dividir descobertas e pensamentos com seus pais.
No entanto, tudo muda com a chegada da adolescência. Os filhos vão ganhando autonomia – benéfica e necessária a seu desenvolvimento – e passam a trocar menos com os pais. Nessa fase da vida, ocorre o processo de individuação do ser, e é comum que haja um afastamento das autoridades formais de modo a construir a própria personalidade.
Ao mesmo tempo, há uma tendência a se aproximar de outros jovens da mesma idade, com quem passam muito tempo, se abrem e trocam confidências. Esse movimento é natural e provavelmente vai durar alguns anos, até a fase adulta.
Embora quase todos os pais de hoje tenham passado por isso na própria adolescência, não é de se espantar que haja algum receio, especialmente sobre amigos que os pais não conhecem – ou pior, sobre os quais já têm informações de que praticam condutas inadequadas. O grande temor é como essas amizades podem influenciar no comportamento dos filhos.
Como agir? Confira aqui algumas orientações:
1) Quando se sentir desconfortável em relação a algum amigo do seu filho, em vez de usar frases como “esse garoto não presta”, “você não anda mais com fulano” ou “essa menina é má influência” – que provavelmente vão gerar o efeito oposto –, o ideal é ter honestidade emocional. Chamar o jovem para uma conversa franca é o que costuma trazer melhor resultado, falando sobre como se sente com relação a essa pessoa e os temores que você tem sobre ela agir para machucar seu filho.
2) Evite falar o que pensa do grupo de amigos de seu filho, o foco deve ser o bem-estar dele. De que maneira? Faça algumas perguntas sobre como costuma ser a forma de agir de determinado amigo, ajudando o filho a perceber se também já não teve alguma situação na qual essa pessoa agiu que não lhe agradou. Os pais, nessa conversa, terão como referência a conduta negativa que conhecem, sem acusações, mas ajudando o filho a ver o que porventura não esteja vendo.
Você pode provocar reflexão com perguntas como: “você se sente feliz com esse amigo?”; “acredita que ele faz bem a você?”; “vocês têm uma relação de parceria e apoio mútuo ou de disputa e humilhação?”.
3) Fazer-se presente é necessário, pois o adolescente capta em sua sensação emocional a falta de limites como falta de cuidado/amor. Em vez de acusações, fale de você, de suas necessidades não atendidas. Use frases como “me preocupa que você esteja dormindo tarde por ficar jogando on-line e tenha faltado à aula duas vezes na mesma semana porque não conseguiu acordar”; “gostaria de saber sempre que você vai a algum lugar depois da aula”; “preciso que você cumpra o horário combinado de voltar para casa no fim de semana”.
4) É claro que os amigos exercem influência sobre o adolescente – isso acontece até com os adultos –, mas essa influência também pode ser positiva. Mesmo que algumas pessoas à primeira vista pareçam ameaçadoras, é preciso que os pais façam um exercício de ampliar seu olhar e não se deixar levar pelas aparências – ou pior, pelos preconceitos (que todos temos).
5) Em vez de formar uma imagem errada dos amigos do seu filho, primeiro dê a si mesmo a oportunidade de conhecê-los melhor. Incentive o adolescente a trazer seu grupo para perto. Converse com eles – não para investigá-los, mas para dar um lugar seguro para se divertirem e para saberem que podem contar com você.
6) Amizades on-line: Na internet não se sabe quem está do outro lado, nem se é mesmo outro adolescente ou um adulto se passando por adolescente. Enquanto a relação se mantiver no plano virtual, o mais prudente é orientar explicitamente seu filho a ter cuidado e não compartilhar dados como nome da escola e bairro onde mora, nem fotos que possam facilitar a ação de pessoas mal-intencionadas.
7) E principalmente: Acredite nos valores e princípios que ensinou a seu filho; que esses aprendizados são mais fortes que a influência que outras pessoas possam ter sobre ele; e que seu adolescente é capaz de perceber o que lhe faz bem ou mal, e se afastar do que é negativo.