“Mãe, já chegou?”
“Não.”
“E agora?”
“Não.”
“Mas e agora??”
Essa cena é familiar na sua casa? De acordo com estudiosos, a geração alpha – formada por indivíduos nascidos a partir de 2010 – tem o imediatismo e a ansiedade como seus maiores desafios. A ansiedade, considerada o “mal do século” entre os adultos, já atinge uma em cada oito crianças nos Estados Unidos (dados da Anxiety and Depression Association of America).
Essa geração, cada vez mais, tem suas necessidades atendidas “sob demanda”: desenhos animados no serviço de streaming, jogos on-line, comida pedida em aplicativos. Isso gera uma urgência desmedida, e consequentemente uma angústia nos pequenos cérebros em desenvolvimento.
Eu primeiro!
Até determinada idade, é normal certo autocentramento. Isso faz parte do desenvolvimento normal do indivíduo, e acontece porque as crianças ainda não conseguem perceber as necessidades alheias. No entanto, desde a primeira infância é possível começar a ensinar sobre a importância de esperar. Do contrário, sua capacidade de se frustrar no futuro pode ser limitada.
De acordo com o pediatra e psicanalista D. W. Winnicott, para criar um ambiente suficientemente bom para a criança – ou seja, aquele que vai propiciar seu desenvolvimento saudável –, os pais devem deixar que ela experimente a frustração, na forma de negativas e do adiamento do objeto de desejo, sempre que assim considerarem necessário. Importante: esse aprendizado só se dá de maneira plena quando a criança é acolhida em sua frustração pelo adulto cuidador.
“Sempre ouvimos que as crianças de antigamente não eram assim, que tinham paciência. Contudo, não se fala que ‘aprendiam’ a esperar na marra, pois não tinham voz nem vez. Hoje, dadas as condições da sociedade, é natural que a criança se mostre impaciente em alguns momentos, mas a quantidade de vezes que esse comportamento aparece e sua intensidade devem ser observadas. Se o pequeno não consegue esperar nem um minuto para qualquer coisa que queira, e se reage a isso com descontrole emocional, machucando a si ou a outros – a famosa birra –, é hora de ligar o sinal de alerta”, analisa Marcia Belmiro.
Quando têm todos os seus desejos atendidos, as crianças podem achar que, por exemplo, o leite vem do supermercado, ou que as roupas saem do cesto sozinhas e aparecem limpas, secas e dobradas dentro do armário. Aqui, os pais podem auxiliar explicando que para quase tudo há processos, com uma ordem a ser seguida, para obtermos o que desejamos. Se os pequenos puderem participar desses processos, melhor ainda.
Quando a criança ainda é pequena, ainda não tem noção de tempo. Mas mesmo assim é possível explicar que, por exemplo: até a mamãe chegar do trabalho, o filho vai brincar, almoçar, tomar banho e dormir; ou que quando o ponteiro grande chegar no 12 é hora de ir para a aula de natação.
Desenvolver a habilidade da paciência é importante para toda a vida, afinal, na idade adulta, há inúmeras esperas necessárias: a espera pelo nascimento de um filho, por uma promoção no trabalho, pelo resultado de um exame importante. Treinar o cérebro para isso desde a infância reduz a ansiedade, ampliando a resiliência e consequentemente seu sentimento de contentamento diante do mundo.
Fonte:
Série “Primeiros anos de vida – parte 1”. Parte integrante do Programa de Formação Kids Coaching.
“Ansiedade: 1 em cada 8 crianças sofre com o problema”. Disponível em: https://revistacrescer.globo.com/Criancas/Comportamento/noticia/2016/12/ansiedade-1-em-cada-8-criancas-sofre-com-o-problema.html