Quando um casal espera gêmeos, já na primeira ultrassonografia a perspectiva de uma gravidez tranquila cai por terra. Parece que de repente foram ligadas sirenes por todos os lados, e cada uma delas transmite a mesma mensagem: Perigo! A maioria dos comentários são dirigidos à mãe: “Parto normal nem pensar, é muito arriscado.”; “Você nunca mais vai dormir.”; “Sabe que é muito comum um dos bebês morrer, né?”
Diante de tantos alertas, palpites e conselhos não solicitados (a maioria vindos de pessoas que não têm qualquer experiência com gêmeos), é comum haver uma certa insegurança por parte dos pais, que saem em busca de dicas e conselhos infalíveis para sobreviver ao que parece uma sina.
No entanto, o mais importante aqui é não entrar nessa vibração de medo e negatividade, mas procurar em fontes confiáveis dados baseados em evidências científicas e as condutas que fazem mais sentido para a família – tomando, claro, todos os cuidados necessários a uma gestação de risco como é a gravidez gemelar.
Confira aqui cinco pontos importantes para quem está esperando gêmeos:
- Cuidado com as comparações. É comum comparar irmãos de idades diferentes, e isso parece quase incontrolável quando se trata de gêmeos. Desde o tamanho e o peso do nascimento até os marcos de desenvolvimento, passando pelos gostos, habilidades e comportamentos ao longo de toda a vida. Gêmeos são irmãos que nasceram no mesmo dia e talvez sejam idênticos fisicamente, mas nada além disso. Nenhum rótulo é positivo, nem aqueles que parecem ser. Categorizar os filhos em “mais esperto”, “mais inteligente”, “mais bravo” ou “mais ciumento” não ajudará em nada no desenvolvimento das crianças.
- A importância da identidade própria. Muitas pessoas chamam irmãos gêmeos não pelo nome, mas por “os gêmeos”. Essas crianças já dividem o dia do aniversário e são confundidos por sua aparência. Não é necessário despersonalizá-los ainda mais. Crianças gêmeas são indivíduos com uma identidade em construção, e esse processo começa pelo uso do próprio nome. O mesmo se aplica às roupas – um detalhe que pode parecer insignificante, mas faz diferença. Quando as crianças crescerem, talvez desejem se vestir parecidas. Mas enquanto são pequenas, que tal usarem roupas diferentes? Isso ainda ajuda na identificação das outras pessoas.
- Perceber os próprios limites. Ter dois filhos com o mesmo nível de demanda – quanto menores as crianças, maiores as demandas – pode ser exaustivo para os pais. Às vezes parece que a casa se transformou numa linha de produção: trocar fraldas, alimentar, colocar para arrotar, fazer dormir, e começa tudo de novo. Nessa situação, pode ser difícil dormir o suficiente, que dirá ter tempo para si mesmo, seus hobbies e interesses. Portanto, peça e aceite ajuda. O autocuidado de quem cuida parece um luxo, mas é fundamental – até para poder cuidar bem.
- Não dá para controlar tudo. Talvez seus filhos tenham nascido prematuros e passado algum tempo na incubadora. Talvez você não tenha conseguido ler todos os livros que planejou durante a licença-maternidade, já que na maioria dos dias tinha as duas mãos ocupadas com bebês mamando ao mesmo tempo. Ter filhos gêmeos é abrir mão do controle. Em alguns dias não vai dar para ter crianças penteadas, uma casa organizada e cinco cores no prato, e tudo bem. Encontrar contentamento mesmo longe do ideal é um grande sinal de maturidade.
- Permitir-se aprender. Nós, adultos, acreditamos que sabemos tudo sobre a vida… até que nascem os filhos. As crianças precisam ser ensinadas a comer com talheres, ler, escrever etc., mas também têm muito a ensinar. Seu olhar generoso e cheio de curiosidade pela vida é capaz de nos transformar em pessoas melhores, mais presentes e gratas. Isso acontece com todos os filhos, mas, no caso de gêmeos, o potencial dessa transformação é ainda maior – devido não só às diferenças entre os irmãos, mas também à interação entre eles, refletindo intensamente em todo o sistema familiar.