Para a maioria das crianças de hoje, os jogos virtuais fazem parte do dia a dia e em muitos casos são complementares às brincadeiras off-line: pela tela de um celular ou tablet, é possível cuidar de animais num petshop, escolher a roupa das bonecas, promover uma corrida de carros e muito mais. Ampliando essa lógica da complementaridade, foram criados apps para auxiliar no processo de alfabetização.
Os pais podem perguntar: E funciona? A resposta – dada por educadores e pesquisadores da infância consultados na pesquisa para este artigo – é de que depende do objetivo. Se já existe um interesse manifesto pela criança por ler e escrever, não há problema em lançar mão de atividades lúdicas que ajudem nesse processo.
A criança é naturalmente curiosa, interessada em conhecer, aprender e pesquisar. O problema surge quando o adulto cuidador pega um aplicativo – ou qualquer outra ferramenta, incluindo jogos ou livros de atividades – para provocar um estímulo que ainda não existe no pequeno.
Partindo desse princípio, é importante alertar que:
– Aos 6 anos (idade média em que há desenvolvimento cerebral e corporal suficiente para a alfabetização), o tempo recomendado para o uso de telas é de até duas horas diárias, sempre sob a supervisão de um adulto, de acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria.
– No processo de alfabetização, os principais estímulos dados à criança devem ser psicomotores (de preferência usando o corpo todo e de maneira presencial).
– Alfabetização é totalmente diferente de letramento; ou seja, a criança decorar as letras e palavras, mas sem compreender seu significado ou sua utilidade para a vida prática.
Em uma breve pesquisa, é possível perceber que há aplicativos de qualidade e outros não tanto, então é preciso tomar cuidado na hora de escolhê-los. Por exemplo, existem apps cujo mote é “acelerar o processo de alfabetização de crianças a partir de 5 anos” – idade em que apenas uma minoria dos indivíduos já alcançou essa prontidão.
Veja a seguir alguns nos aplicativos de alfabetização mais conhecidos do mercado e confira nossa avaliação:
O nome das coisas – Em uma das opções de jogos, a criança vê o desenho de um objeto (ex.: lápis) e, abaixo, o nome do objeto escrito. As letras que formam essa palavra aparecem a seguir, embaralhadas, e a criança precisa levar cada letra a seu lugar certo, formando a palavra. APROVADO
Silabando – Aposta na linha silábica, mas sempre contextualizando com o significado das palavras apresentadas. APROVADO
Mestre da Palavra – Pode ser usado quando a criança já sabe ler e escrever minimamente. É uma mistura de caça-palavras com cruzadinhas bem simples. Seu grande ganho é na aquisição de vocabulário. APROVADO
Languinis – Também indicado para crianças recém-alfabetizadas, é um jogo ao estilo do sucesso CandyCrush, no qual as crianças formam palavras, aumentando seu vocabulário. APROVADO
Letra Kid – É a atualização do caderno de caligrafia. As letras (maiúsculas, minúsculas, de bastão e cursivas) aparecem sombreadas, e a criança passa o dedinho por cima, de forma repetitiva e sem um propósito pedagógico claro. REPROVADO
EduEdu – Seu mote é: “ensinando crianças a ler e escrever de forma divertida e gratuita”, banalizando a importância da escola e do trabalho dos professores. Ao fim de uma série de exercícios, o programa fornece uma avaliação do aproveitamento da criança, para ser lida pelos pais. REPROVADO
Fonte:
“Menos telas, mais saúde, pede Sociedade Brasileira de Pediatria em manual”. Disponível em: https://bebe.abril.com.br/desenvolvimento-infantil/menos-telas-mais-saude-pede-sociedade-brasileira-de-pediatria-em-manual/#:~:text=Entre%20os%20dois%20e%20os,horas%20por%20dia%2C%20com%20supervis%C3%A3o.