Quem vê Fábio Borges em ação – seja no palco, dando palestras para centenas de pessoas como coach de humor, seja no consultório, como dentista (sua formação original) – percebe de cara sua espontaneidade contagiante. O que pouca gente sabe é que Fábio, que é pai de João Rafael, de 3 anos, teve seu maior professor em casa.
No artigo de hoje do especial de dia dos pais do Blog do ICIJ, Fábio nos conta as lições mais valiosas que aprendeu com seu pai, Nei:
“Sempre sonhei ser pai, desde que me entendo por gente. Sempre pensei em chegar em casa e ter uma criança me chamando: ‘Papai, papai!’ Acho que esse desejo veio pelo relacionamento que eu tinha com meu pai. Nossa relação sempre foi de muita união, amizade e cumplicidade. Foi assim desde que eu era pequeno, e ficou ainda mais forte depois de adulto, quando desenvolvemos uma intimidade muito grande.
Meu pai colocou a ‘régua’ da paternidade lá no alto. E graças a Deus pudemos reconhecer isso quando ele ainda estava vivo. Nos almoços de domingo, sempre falávamos em quanto nos sentíamos abençoados por termos uma família tão unida.
Feliz, apesar das dificuldades
E quando me tornei pai, tomei para mim uma frase dele: ‘Eu posso errar, mas vou errar por muito amor, porque tudo que faço é com muito amor.’ Ele dizia que não via como sacrifício nada que fazia por nós, seus filhos, porque sempre foi com tanto amor que ele fazia tudo feliz, apesar das dificuldades. E hoje, na minha relação com o João, vejo da mesma forma.
Eu e minha esposa passamos alguns sufocos para conseguir as coisas necessárias para o tratamento dele [João tem diabetes], fazemos escalas, acordamos de madrugada para medir a glicemia dele, mas não sinto um peso nisso, porque amo demais esse moleque. Ele me faz buscar ser um ser humano melhor. Quero que ele possa sentir o que sinto pelo meu pai: intimidade, orgulho, confiança, amor.
Depois do isolamento, o reencontro
Os últimos meses para nós foram muito desafiadores. Fiquei 64 dias afastado do meu filho. Sou dentista e estava na linha de frente, fazendo teste de Covid nas praças. Como foi doído! Mas ao mesmo tempo sentia muita gratidão por saber que ele estava com minha esposa e estava sendo bem cuidado e protegido. Todo dia sou eu que dou banho e comida para ele, é a nossa rotina, então nós dois sentimos muita falta disso. Quando nos reencontramos, que alegria que foi!
Carinho, segurança e abrigo
Em maio deste ano perdi meu pai. E que saudade tenho dele, de cuidar e ser cuidado por ele! Sinto uma baita tristeza pela saudade do meu pai, mas ao mesmo tempo sinto muito orgulho, me sinto honrado de ter tido o pai que tive, e me sinto capaz de prover esse carinho, essa segurança e esse abrigo que meu pequenininho precisa.
Meu pai sempre foi um cara extremamente otimista e brincalhão, e aprendi a ser assim com ele. No hospital, internado, quanto a gente brincou! Fazíamos dancinhas no quarto, brincávamos com as enfermeiras, com os outros pacientes… Na minha infância, lembro que ele não era exatamente engraçado, era bem-humorado, trazia sempre uma leveza para a nossa casa.
Escolher a leveza
Com meu pai aprendi a não me levar tão a sério, não me cobrar tanto, me permitir dar boas risadas até nos momentos difíceis. Agir assim não é se iludir ou sair da realidade, mas escolher enfrentar uma realidade dura de uma forma mais leve.
Esses dias eu estava ouvindo um padre falando da diferença de herança e legado. Herança é o que você deixa para as pessoas, e legado, o que deixa nas pessoas. Meu pai não tinha posses, não deixou herança pra gente, mas ele deixou um enorme legado: de amar a família, estar sempre a postos, acolher a quem precisa, ser generoso.
Me corta o coração pensar que o João não vai aproveitar mais a vida ao lado do meu pai, mas espero muito que de alguma forma ele possa conhecer o avô através de mim, das minhas atitudes, das minhas brincadeiras, que ele saiba que o vovô Nei era o cara maravilhoso que ele foi. A paternidade me fez e me faz ser um ser humano melhor, e hoje e sempre quero seguir honrando tudo que aprendi com meu pai.”