No artigo de hoje, vamos tratar da paternidade dos homens separados das mães de seus filhos. No âmbito do desenvolvimento infantojuvenil ainda são poucas as pesquisas sobre esse tipo de configuração, o que pode ser explicado por uma falta de interesse da sociedade como um todo no tema.
Um dos artigos sobre essa temática é “Paternidade: considerações sobre a relação pais-filhos após a separação conjugal”, de 2004. Nele, Dantas et al. trazem dados de uma pesquisa norte-americana de 1985, mas que segundo os autores ainda se mostrava “bastante atual”. De acordo com este estudo, de Furstenberg e Nord:
– 49% das crianças afirmaram não ter estado com o pai não residente durante o ano anterior.
– Uma em cada seis crianças afirmou manter contato semanal com o pai.
– 60% das crianças não tinham visto seus pais biológicos não residentes no último mês.
– A maioria das crianças relatou não dormir na casa do pai não residente e não ter lugar para guardar roupas e objetos pessoais nela.
– 58% dos entrevistados disseram jamais ter visitado a casa nova.
– Para a maioria, os telefonemas também são esporádicos, assim como as visitas, que tendem a diminuir à medida que aumenta o tempo da separação.
– Em geral os encontros com o pai são voltados para o lazer, e a participação do pai não residente nos trabalhos escolares ou em atividades diárias é praticamente inexistente.
De lá para cá, as mudanças podem parecer imperceptíveis, mas estão acontecendo. No Brasil, uma lei instituiu a possibilidade de guarda compartilhada entre pais divorciados em 2008, e hoje ela já é a escolha em mais de 20% das separações com filhos.
Entre os homens-pais que pensam a questão da paternidade após o divórcio, há questões do tipo “como desempenhar uma paternidade presente sem o convívio diário com o filho?”; “como manter a intimidade da relação apesar da distância?”.
O fisioterapeuta Daniel Hacker, pai de Davi, de 10 anos, e separado há três anos, conta um pouco da sua trajetória:
“Desde o divórcio optamos pela guarda compartilhada. Na nossa rotina, Davi dorme dois dias da semana comigo e três dias com a mãe, e pegamos ele em fins de semana alternados. Nos dias em que meu filho está na casa da mãe, sinto muita falta dele.
A cada questão que se apresenta, conversamos e trocamos mensagens, de modo que as decisões relacionadas ao Davi são sempre tomadas de comum acordo. Em relação ao dia a dia, tentamos manter o máximo possível a mesma orientação para as duas casas: horários de banho, alimentação, de dormir, tempo de uso de telas. O que vale na minha casa, vale na dela. Na época da separação, optei por ficar próximo da casa da Rachel, para facilitar a nossa logística.
Apesar da rotina puxada de trabalho que tenho, sempre que o Davi está comigo procuro priorizar ele. Meu filho curte muito jogar futebol, então no fim de semana sempre saímos para jogar no Aterro do Flamengo ou na quadra do meu prédio. Atualmente a quadra está em obras, então reformei minha bicicleta e temos saído para pedalar.
Sinto que evoluí como pai depois da separação. Vejo que o tempo que estou com meu filho hoje em dia tem muito mais qualidade, percebo que nos aproximamos nos últimos anos. Ser pai foi inesperado, mas foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Não é fácil, tem períodos mais desafiadores. É uma luta diária, sempre pensando no futuro dele. É complexo dosar a hora de dizer sim e a hora de dizer não. Ensino muito, mas também aprendo demais com meu filho. À medida que ele cresce, eu cresço também.”
Fonte:
“Paternidade: considerações sobre a relação pais-filhos após a separação conjugal”. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-863X2004000300010&script=sci_arttext