Crianças que mordem os amiguinhos: Como lidar? Esse tema aparece com frequência nos grupos de mães, com opiniões diversas, todas defendidas ferrenhamente: “não é nada de mais, toda criança morde”, “é falta de educação, os pais não dão limites”, “não é preciso intervir, com o tempo isso passa”, “morder outras crianças é sinal de que tem algo errado”…
Diante disso, os pais do pequeno que morde frequentemente ficam entre polos opostos: ou decidem deixar para lá, ou se preocupam excessivamente, com pensamentos do tipo “meu filho é uma criança agressiva?”, “será que ele vai ser excluído pelos colegas?”, e o pior de todos: “onde foi que eu errei?”
Em geral, esse tipo de comportamento aparece na primeiríssima infância, e coincide com o que a psicanálise chama de fase oral, ou seja, quando o centro de prazer da criança está relacionado à boca. Além de usar o conjunto formado por lábios, língua e dentes para se alimentar, é por esse meio que o pequeno descobre o mundo, lambendo, chupando e mordendo tudo que está a seu alcance.
Nessa etapa do desenvolvimento a criança ainda não fala – ou fala, mas ainda não tem domínio da linguagem. Assim, morder outra pessoa pode ter diversos significados: relacionar-se com o ambiente externo, dizer não a algo que a desagrada, expressar raiva, medo, afeto, demonstrar algum desconforto, como sono ou fome, ou até para aliviar a coceira provocada pelo nascimento dos dentinhos.
“Quando isso acontece, algumas reações bastante comuns dos pais são ineficazes”, analisa Marcia Belmiro.
Entre as atitudes mais populares a evitar estão:
– Esperar passar: A criança não sabe insitintivamente o que faz bem ou mal a si ou aos outros, ela precisa da atenção e da orientação dos pais nesse sentido. O ideal é que haja um feedback dos cuidadores já nos primeiros episódios de mordidas, para evitar que esse comportamento seja naturalizado.
– Rotular a criança: Falar para o filho coisas como “você é um menino mau”, ou avisar aos desconhecidos que se aproximam que “é bom tomar cuidado, ele morde” provavelmente só vai resultar em mais agressividade por parte da criança.
– Brigar ou ameaçar: A ideia não é humilhar a criança ou fazê-la se sentir pior, mas despertar sua empatia com frases do tipo: “Isso que você fez doeu, veja como o menino está chorando”, e ajudá-lo a reparar o que fez, fazendo carinho ou buscando gelo para o colega machucado.
– Não sair de casa: Restringir a socialização da criança para evitar constrangimentos não resolve o problema, apenas o torna invisível.
O que funciona
Resumindo: “Quando seu filho morde outras crianças, o que funciona é repreendê-lo, de maneira firme e gentil, despertando sua empatia, sem tom de crítica nem julgamento. Mesmo as crianças que ainda não falam conseguem compreender a mensagem, pelo tom de voz usado pelo adulto. Provavelmente será necessário fazer isso muitas vezes, não espere que a criança vá mudar seu comportamento da primeira vez, até porque lhe falta prontidão neurológica para fazer esse discernimento”, explica Marcia Belmiro.