Três palavras que podem provocar terror e pânico em algumas mães: HORA DO ALMOÇO. Em frações de segundo, a mente materna é invadida por gritos, choro, birra interminável e a temível frase: “não quero comer!”, dita numa voz mais aguda que o habitual, entre soluços.
Diante de tamanho desafio e do receio em deixar a criança sem alimentação adequada, muitas famílias cedem à prática cada vez mais comum do uso do celular na hora da refeição.
Como que por mágica, as lágrimas infantis secam e o pratinho colorido aparece limpo em alguns minutos. Ufa! Criança alimentada e saudável. Será?
Não exatamente, é o que afirma a dra. Jane Rezende. A pediatra e nutróloga infantil faz um alerta sobre o uso de telas por crianças na hora das refeições.
“Todos temos naturalmente um sistema de autorregulação em relação à saciedade e à fome. Quando há o uso de qualquer tipo de tela (celular, tablet, televisão) esse sistema se torna comprometido porque ficamos desatentos, fazendo com que não tenhamos consciência do que e do quanto estamos comendo”, analisa a médica.
A dra, Jane explica como isso ocorre na prática: “O uso de telas durante a refeição faz com que o corpo produza mais cortisol, hormônio que interfere no metabolismo das gorduras, propiciando aumento de peso. A luminosidade das telas também interfere no metabolismo cerebral, com consequências na regulação do apetite”, explica.
Olha o aviãozinho!
Em algumas famílias o uso do celular na hora da refeição começa já na introdução alimentar, por volta dos 6 meses de idade. No entanto, a Sociedade Brasileira de Pediatria preconiza que as crianças só podem ser apresentadas a qualquer tipo de tela a partir dos 2 anos – sempre com supervisão de um adulto e limite de tempo por faixa etária. E importante: em nenhuma hipótese no momento da alimentação.
Lembrando que a criança experimenta o mundo primeiro pela boca, na fase oral – que vai até cerca de 2 anos. “Esta é um fase de pleno desenvolvimento cerebral, de conhecimento do mundo, em que uma parte considerável do aprendizado está relacionado ao sentido do paladar”, destaca dra. Jane.
Transição de bebê para criança
Em outras famílias, é comum a frase: “Mas ele comia de tudo quando era bebê, de repente mudou.” A pediatra explica o porquê desse comportamento: “A partir do segundo ano de vida o apetite da criança diminui, ela se torna mais seletiva devido à diminuição da velocidade de crescimento, o que pode deixar os pais desesperados para que a criança coma alguma coisa, e daí apelam para o celular.”
Jane tranquiliza os pais que se sentem assim, e explica que se a criança se mostra bem-disposta, está crescendo e se desenvolvendo normalmente, não há com o que se preocupar.
Abstinência do celular
A dra. Jane relata que, dependendo do caso, quando os pais decidem tirar o celular, a criança pode apresentar até comportamentos de abstinência – como ansiedade, agitação e choro intenso. Nessa situação tão desafiadora, Jane conta, é comum os pais cederem e permitirem a volta do velho hábito.
Marcia Belmiro convoca a uma reflexão: “Talvez o uso do celular na hora de comer – que em algum momento pode ser parecido algo inofensivo – esteja começando a incomodar. Não importa por que esse hábito começou nem há quanto tempo existe, seu desejo hoje é continuar nessa situação ou trazer seu filho de volta à vida off-line?”
Marcia continua: “Por que a criança precisa ser distraída de um passeio, de uma refeição em família? Essa ideia acaba por tolher a oportunidade de experienciar a vida real – com tudo o que ela tem de ócio e tédio, mas também de descoberta e maravilhamento.”
Marcia afirma que, embora largar o hábito do celular na hora de comer seja difícil, é possível, e principalmente: vale a pena.
Confira informações relevantes e orientações que a criadora do Método CoRE KidCoaching dá para quem deseja tirar o celular dos filhos na hora da refeição:
– De acordo com pesquisa realizada no The College of Family Physicians do Canadá, refeições familiares frequentes aumentam a autoestima dos filhos e as chances de sucesso escolar. Quando a criança come olhando para o celular, perde esse momento de preciosa interação com a família.
– Brigar para a criança sair do celular não adianta, provavelmente essa atitude só vai gerar mais resistência do pequeno. Ao contrário, se há um clima favorável em casa, a criança talvez nem se lembre do celular.
– O exemplo dos pais é fundamental. Quando os adultos cuidadores têm o celular sempre à mão e costumam pegá-lo ao menor sinal de tédio, provavelmente os filhos farão o mesmo. Quando estiver à mesa, acostume-se a deixar o aparelho em outro cômodo, de preferência no modo silencioso.
– A refeição não precisa ser mais um item na lista de afazeres diários, algo trabalhoso, desgastante, que a gente só espera terminar para poder dar “check”. Pode ser um momento gostoso, em família, apesar da vida corrida e repleta de demandas, com conversas que sejam também do interesse da criança, por exemplo.
– Inclua a criança na escolha dos alimentos e no preparo. Ao criar essa relação afetiva com o momento da alimentação, a hora de ir para a mesa vai ser apenas uma continuação natural do processo já iniciado.
Se interessou por este tema?
Na 5ª edição do Congresso Transformo Gerações, a dra. Jane Rezende vai fazer uma palestra sobre o tema “Alimentação e comportamento infantil”.
Este ano o TG vai acontecer nos dias 18, 19 e 20 de dezembro, on-line e ao vivo.
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