O medo é uma emoção básica e fundamental para a espécie humana, pois permite a defesa dos perigos externos. Durante a infância – especialmente a primeira infância, até os 5 anos de idade – os medos são muito presentes.
Nessa fase a criança está conhecendo o mundo e aprendendo sobre seu funcionamento. Realidade e fantasia ainda não estão totalmente separadas, e o real e o imaginário frequentemente se confundem. Para os pequenos, o que foge do já conhecido pode despertar medo. É o caso de palhaços, mímicos, pessoas vestidas de Papai Noel ou outros personagens, como super-heróis.
Aos pequenos olhos infantis, como seria possível classificar algo que aparentemente é humano, posto que anda sobre duas pernas, mas tem cabelo laranja, um nariz vermelho enorme, o rosto todo pintado e entra munido de uma buzina que faz um som alto e estridente?
A essa combinação perturbadora somam-se as falas ainda mais esquisitas dos pais: “olha que legal!”, “vai lá, tira uma foto com o palhaço!”, “senta no colo dele!”.
Não é à toa que muitas pessoas – inclusive adultas – têm verdadeiro pavor de palhaços e personagens mascarados. Uma pesquisa realizada em 2014 pelo instituto YouGov, na Inglaterra, apontou o palhaço como o décimo colocado em um ranking de elementos com maior potencial para despertar fobia. Esse medo intenso de palhaços tem até nome: coulrofobia.
O que fazer? E o que não fazer?
Os pais têm uma tendência a reagir a esse medo dizendo coisas como “calma, o personagem é bonzinho, não é preciso ter medo”. No entanto, esse tipo de atitude não tem o efeito esperado. Ao contrário, a criança se sente menosprezada.
Nessa situação, o ideal é validar o sentimento da criança, acolhendo-a. E, depois de passada a situação, conversar com o pequeno e tentar entender se aconteceu algo que pode ter fugido aos olhos dos pais (ex.: o ator vestido de personagem teve alguma conduta inapropriada).
Quando damos à criança o direito de negar esse tipo de aproximação (e mais, de só se aproximar se esse desejo partir dela), estamos ensinando sobre consentimento, respeito ao seu corpo e às suas vontades – um aprendizado que será importante para toda a vida.
No entanto, mesmo quando há uma abordagem cuidadosa e respeitosa dos pais as fobias podem se instalar na criança. Caso esses medos se tornem intensos, chegando ao ponto de atrapalhar a rotina da criança (ex.: o pequeno deixa de ir a festas com receio de que haja um personagem assustador, ou sofre à simples menção do tema), talvez seja o caso de buscar ajuda profissional.