Você sai com as amigas para um café, mas quando se dá conta passou duas horas só falando sobre as crianças? Ou: Seus filhos vão ao cinema com a tia. Você se vê sozinha em casa e… parte para fazer aquela limpa no guarda-roupa dos pequenos?
Você se sente assoberbada com as demandas da maternidade 24 horas por dia? Sente como se depois de ter filhos você tivesse perdido sua identidade própria, ou como se sua individualidade tivesse sido anulada?
Muitas mulheres relatam uma sensação de sobrecarga – não só física, mas também mental – após se tornarem mães. “No início, um bebê demanda mesmo. São ciclos infinitos de amamentação, troca de fraldas, além necessidade de ninar para dormir. Esse estado de alerta contínuo exige demais do corpo, e em geral não sobra energia para mais nada. No entanto, a ideia arraigada na sociedade de que ser mãe é ‘padecer no paraíso’ impede algumas mulheres de retomarem suas necessidades e interesses próprios”, analisa Marcia Belmiro.
O sentimento de, por um lado, não ser mais quem você era antes de ter filhos e, por outro, não saber quem é agora é muito forte entre as mulheres-mães. Essa angústia é acompanhada da crença de que, para se redescobrir e retomar essa individualidade, é preciso fazer coisas “horríveis”, como deixar o filho na escola, com a avó ou até com o próprio pai para fazer terapia, voltar a estudar ou aceitar uma promoção no trabalho.
“A imposição social para que a mulher se dedique totalmente à maternidade e a tenha sempre como prioridade número 1 é antiga e ainda vigente. No entanto, a questão é: Você vai querer entrar nesse jogo que só prejudica a si mesma?”, provoca Marcia.
Sem a mulher se dar conta, vai perdendo sua identidade própria, seja pela dificuldade de tomar um banho sozinha, seja porque de repente todos se referem a ela como “mãe do fulano”, “mamãe”, “mãezinha”.
Quando ela não percebe que está sobrecarregada – já existe até o termo “burnout materno” – ou por algum motivo não pede ou não aceita ajuda, o risco é que, em vez de ser a mãe sempre presente que deseja, sua capacidade de cuidado seja reduzida, e isso se reflita em prejuízo para as crianças.
“O principal é que essa mãe possa se reconstruir respeitando esse processo, sem culpas – seja por deixar o filho com outros cuidadores, seja por nem sempre conseguir fazer exercícios depois de uma noite mal dormida. Afinal, tudo mudou mesmo com a maternidade. E, felizmente, ainda vai mudar muito”, garante Marcia Belmiro.