“Eu desejei tanto ter filhos, acreditei que quando isso acontecesse minha vida estaria completa, mas agora me vejo fazendo coisas que não acredito, estou sempre cansada e estressada, sempre no limite. Me sinto a pior mãe do mundo.”
Fazendo uma rápida pesquisa em fóruns sobre maternidade, é possível ver muitas mensagens como essa. A necessidade de ser uma mãe perfeita e, ao mesmo tempo, o sentimento de estar sempre falhando é familiar para um grande número de mães.
Essa sensação de insuficiência e incompetência vem se tornando ainda mais intensa nos últimos anos, com o advento das redes sociais. Na vida on-line, parece que todas as mães que você conhece são mais pacientes, inventam brincadeiras mais criativas, são mais bonitas e bem-sucedidas que você.
“Essa comparação constante revela-se uma grande perda de tempo. Ao ver todas as supostas supermães do seu feed (que por trás das selfies são tão humanas quanto qualquer outra), ninguém passa a ter mais paciência ou criatividade. Mas, ao contrário, é provável que se sinta ainda mais frustrada”, afirma Marcia Belmiro.
O que diz a ciência
Há mais de 50 anos, o pediatra e psicanalista inglês D. W. Winnicott já abordava esse tema. De acordo com Winnicott, a melhor mãe é aquela que não atende a todas as necessidades da criança, que eventualmente falha. Ao agir assim, essa mãe, que o estudioso chamou de “suficientemente boa”, está contribuindo para o crescimento do filho.
Na vida real, sabemos que levar esse conceito ao pé da letra é um pouco mais difícil. Marcia dá um exemplo: “Os amiguinhos têm brinquedos caros e seu filho reclama disso. No entanto, esse não é um valor da sua família. Para vocês, é mais importante é investir em uma escola de qualidade. Você gostaria de ter dinheiro para a escola e os brinquedos, mas não tem. Então não adianta ficar sofrendo diante da escolha necessária. O importante é que essa escolha seja feita baseada na sua agenda, não na agenda alheia.”
Marcia Belmiro continua: “Seu norte são seus valores, o que é importante para sua família. A ideia de que ‘se todo mundo faz, deve estar certo’, ou de que ‘se ninguém faz, deve estar errado’ só aumenta a falta de conexão consigo mesma, além de ser um grande gerador de frustração e culpa.”
O medo dos traumas
O receio de que todo e qualquer deslize – um grito dado hoje, ou um momento de descontrole na semana passada – pode se transformar em um trauma para a vida toda é um fantasma que assombra as mães.
Marcia pondera: “É quase certo que nossos filhos terão traumas, e por sua vez provavelmente estarão relacionados aos cuidadores principais. No entanto, nunca saberemos o que pode ou não se transformar num trauma. O que se pode fazer então? Dar o seu melhor todos os dias (sabendo que o melhor de uns dias não é tão bom quanto em outros), e ensinar ao filho que errar é humano. Dessa forma ele vai aprender não só que você erra, mas que ele também pode errar.”