Muitas mães manifestam sua preocupação da seguinte forma: “um dos meus filhos é muito dependente, anda atrás de mim o dia todo, os outros não são assim”; ou “tenho uma filha tímida demais, sinto que todos olham para o irmão extrovertido e ela parece invisível para o mundo”.
Existe uma expectativa da sociedade em geral de que irmãos sejam partes de um todo homogêneo. Como pessoas nascidas na mesma família, criadas da mesma forma, com os mesmos valores e regras podem ser tão diferentes entre si? Essa percepção de ter um filho que “não é como os outros irmãos” é recorrente – e pode ser prejudicial para todos.
A maioria das mães fala: “mas eu trato meus filhos de maneira igual”. Talvez esteja aí a questão. Quando lidamos com elementos diferentes como se iguais fossem, dificilmente teremos o resultado esperado.
Imagina se você fizer um suco de limão e não colocar água, tratando ele como um suco de melancia? Vai ser impossível tomá-lo. Ao tratar todos os filhos de maneira igual, a mãe para de ver cada um deles em sua inteireza e passa a se relacionar apenas com o rótulo “colado” nessas crianças.
Os rótulos que aplicamos aos nossos filhos são muito perigosos. Uma pessoa, ao ouvir ao longo de toda a vida que é dependente demais, chorona demais ou tímida demais pode crescer acreditando verdadeiramente nisso, e essa característica só tende a ganhar mais espaço.
Quando a questão do rótulo se soma a uma comparação entre irmãos, isso toma uma proporção ainda maior: o filho dependente, chorão ou tímido sempre encontrará seu oposto no irmão: independente, sorridente, falante. Isso porque o filho A pode não ser especialmente bagunceiro, mas quando é visto em comparação ao filho B, super organizado, esse “problema” parece bem maior do que é de fato.
“A pergunta clássica ‘por que você não pode ser igual ao seu irmão?’ só tem uma resposta: porque isso é impossível. Não existe uma personalidade mais ‘correta’ que outra. Existe, sim, a que vai ao encontro da expectativa dos adultos e a que diverge disso. Ao serem comparados o tempo todo, inevitavelmente os filhos vão se sentir ora injustiçados, ora privilegiados – o que não é bom para ninguém”, analisa Marcia Belmiro.
Macia continua: “Como é possível mudar esse estado de coisas? Olhando para o sistema familiar como um todo, tirando o foco daquela criança específica. Refletindo sobre o que você, mãe, sente a respeito dessa criança. Quais eram as suas expectativas sobre esse bebê e como você lida com elas hoje, diante do filho real, não idealizado?”
As potencialidades, dificuldades, formas de ser e estar no mundo de cada indivíduo são diferentes dos demais – independentemente de essa pessoa ser oriunda de um lar com outros filhos. Indivíduos gerados do mesmo pai e da mesma mãe podem ter semelhanças, mas é certo que também terão diferenças, e aprender a lidar com essas diferenças dentro de casa é um dos maiores privilégios de ter irmãos.
“Quando uma criança é percebida por seus cuidadores em sua singularidade, fora do comparativo com as demais, isso ajuda a desenvolver aquilo que é único em si – inclusive as características ditas “ruins” (ex.: uma pessoa tímida que, em vez de ser forçada a interagir o tempo todo, é estimulada a aprimorar sua concentração e capacidade de análise)”, conclui Marcia.