Na sociedade em que vivemos, marcada pela competitividade crescente, aumentar a produtividade é o objetivo de estudiosos em todo o mundo: Afinal, quais ferramentas são eficazes para produzir mais em menos tempo?
Mas pesquisadores da Universidade Rutgers, nos Estados Unidos, deslocaram esse foco. Em vez de pensar em como trabalhar melhor, investigaram formas de descansar melhor. O resultado dessa pesquisa, divulgado em 2019, aponta que usar o celular nos momentos de folga impede que o cérebro se recupere de fato, o que impacta diretamente na produtividade.
Como foi a pesquisa
No experimento, alunos de graduação resolviam uma série de quebra-cabeças e jogos de palavras de nível difícil. Depois de algum tempo na atividade, eles eram divididos em três grupos: um grupo podia fazer pausas com acesso ao celular; o segundo não podia usar o celular nas pausas; e o terceiro não teve direito a descanso.
Ao fim, constatou-se que o primeiro grupo apresentou mais sinais de exaustão mental e dificuldade de resolver os desafios – inclusive em comparação ao grupo que não teve descanso.
O mito da multitarefa
A médica e professora da UFMG Leonor Guerra afirma que o cérebro não é multitarefa, como se acredita no senso comum. Quando o indivíduo tenta realizar duas atividades ao mesmo tempo, uma delas – ou as duas – não serão bem-sucedidas. No exemplo pesquisado pela universidade norte-americana, se a pessoa está no celular, ela não conseguirá fazer a outra atividade – que nesse caso seria descansar.
Isso acontece porque, diferentemente de um livro, que a pessoa abre e só tem acesso a um conteúdo, ao abrir a tela do celular vê-se não só o conteúdo desejado, mas invariavelmente há uma distração do foco para notificações de e-mail, redes sociais, mensagens no WhatsApp etc.
A verdade é que se por um lado os smartphones poupam nosso tempo para diversas atividades – ir ao banco, fazer compras, conversar com pessoas e resolver problemas em geral –, por outro ficar conectado o tempo todo gera um cansaço mental enorme (sem contar que é um estímulo à procrastinação das tarefas indesejadas e passível de dependência).
Sendo assim, aumentar a produtividade passa diretamente por uma análise criteriosa sobre quando usar ou não o celular. Dessa forma é possível controlar a tecnologia em vez de ser controlado por ela, de modo a obter seus benefícios minimizando os possíveis malefícios.
Na prática
O ideal é definir um horário para desligar o celular (ou usá-lo o modo avião). Se o objetivo é potencializar o descanso como estratégia para aumentar a produtividade, uma opção é parar de acessar o dispositivo uma hora antes de dormir, desligar o aparelho e só religá-lo no dia seguinte, de preferência um tempo depois de despertar. Assim, a pessoa não acorda já vendo as demandas externas, um grande causador de ansiedade hoje em dia.
Fonte:
“Reach for your cell phone at your own risk: The cognitive costs of media choice for breaks”. Disponível em: https://akademiai.com/doi/10.1556/2006.8.2019.21