Estamos percebendo na prática o que a ciência já havia provado: em momentos de crise, tudo é amplificado – é como se puséssemos uma lente de aumento na realidade. Ou seja, se uma relação vai bem, ao passar pela crise essas pessoas vão se unir ainda mais. Por outro lado, se já enfrentavam problemas, provavelmente estes vão parecer maiores.
John Gottman, em seu livro Inteligência emocional e a arte de educar nossos filhos, afirma que existem basicamente dois tipos de pais: Os que orientam os filhos a lidar com as emoções (chamados de “preparadores emocionais”) e os que não o fazem. De acordo com o pesquisador, o primeiro grupo consegue ver nas emoções negativas dos filhos uma oportunidade de criar intimidade.
Conexão no isolamento
Isso tem tudo a ver com o momento de quarentena que estamos vivenciando, em que é normal que nossos filhos apresentem estados emocionais e comportamentos como tristeza, tédio, estresse, desânimo, rebeldia. Ou seja, a quarentena pode ser um período de grandes oportunidades, em vez de ser um “inferno astral coletivo” – sem demagogia, tampouco negando as dificuldades existentes de ter toda a família em casa, o tempo todo, por um período ainda indeterminado.
Daqui a alguns anos, dificilmente as crianças e os adolescentes de hoje vão lembrar do número de mortos da pandemia, por exemplo. Mas é provável que se lembrem desse período em que todos ficaram muito tempo sem poder sair de casa, e de como isso impactou na conexão com seus pais e irmãos.
“Este é o momento de repensar nossas relações e nossos valores familiares. Dependendo do temperamento da criança ou adolescente, ele pode lidar com a frustração por ter toda a sua vida alterada se fechando, passando mais tempo no quarto sozinho, no celular ou no videogame. É nesse momento que oriento os pais a agirem com honestidade emocional e dizerem aos filhos que desejam passar por isso juntos, e o quanto isso é importante para eles”, analisa Sabrina Oliveira.
Comportamentos que afastam
Sabrina cita John Gottman e o que ele chama de “quatro cavaleiros do apocalipse” dos relacionamentos. Originalmente o pesquisador criou essa classificação para abordar a relação de casais, mas também se aplica ao contexto de pais e filhos.
Gottman diz que há quatro atitudes que podem “afundar” um relacionamento. São eles: crítica, comportamento defensivo, desprezo e obstrução do diálogo. Se você percebe que os “quatro cavaleiros do apocalipse” estão muito presentes na sua rotina, este pode ser um bom momento para reforçar os laços de harmonia e união, reconectando a família.
Sabrina dá algumas orientações para dar o primeiro passo nesse sentido:
- Todos juntos podem fazer (ou refazer, se for o caso) as regras e combinados da família. Isso vale para as atividades de limpeza e arrumação da casa, mas também para a forma de uns se relacionarem com os outros. Isso implica conversas francas (o que é diferente de agressivas) sobre desejos e necessidades não atendidas de todos.
- Se aproxime do seu filho e pergunte sobre seus interesses e hobbies – sem julgamentos, com real curiosidade. A partir daí vocês podem descobrir interesses em comum e atividades para se distraírem juntos, como jogos, livros, músicas e filmes.
- Muitos pais e mães estão se sentindo cansados com tantas demandas extras (relativas à casa, à necessidade de orientar o estudo on-line dos filhos), muitas vezes ainda conciliando com o home office. Sabrina alerta para a expectativa de perfeição, apesar de tantas mudanças na rotina, e sugere que as famílias foquem no essencial: cuidar de si e dos demais, física e mentalmente.