Lidar com a frustração é apontado pelos cientistas como uma das maiores fragilidades das gerações z e alfa, respectivamente os adolescentes e as crianças de hoje. De acordo com os pesquisadores, os pais, com a intenção de proteger seus filhos, poupam-lhes da dor. Ou então desmerecem o motivo de sua tristeza e raiva, fazendo-os acreditar que é errado demonstrar suas emoções. De uma forma ou de outra, acabam por fragilizá-los emocionalmente, o que pode trazer graves consequências no futuro.
Em primeiro lugar – ou seja, antes de falar dos filhos –, vamos falar dos pais. “Muitos adultos também não sabem lidar com situações de frustração. Dessa forma, como poderão ensinar isso a seus filhos?”, questiona Marcia Belmiro.
Expectativa x realidade
Um exemplo clássico é quando os pais levam o filho pequeno ao supermercado com a expectativa de que aquela criança vai passar duas horas tranquila e quietinha, mesmo com tantos estímulos: cores, luzes, barulho e gente passando. Quando isso não acontece, os adultos se sentem frustrados. E por não terem aprendido a lidar com as próprias frustrações – falando de suas emoções, do que pensam e sentem – acabam respondendo ao descontrole emocional do pequeno (mais conhecido como “birra”) com mais descontrole emocional, gritando, humilhando e coagindo a criança a ficar quieta.
Alguns pais e mães escolhem não se estressar só porque a criança quer comer uma bala antes do almoço, e decidem ceder à vontade do pequeno. No entanto, não percebem que desta forma não ajudam a criança a lidar com as próprias frustrações, seja nas coisas pequenas ou grandes. “Comer ou não uma bala antes do almoço parece uma questão tola, mas são esses pequenos exercícios que vão ajudar a criança a, mais tarde, lidar com as situações da vida adulta. Esses exercícios, proporcionais à idade da criança, ajudam-na a entender padrões e limites, desenvolvendo nela uma certa musculatura emocional”, alerta Marcia.
Por outro lado, se os pais começam a ensinar o filho a lidar com a frustração desde pequeno, dando-lhe ferramentas emocionais para isso, mais tarde será mais fácil para ele lidar com as frustrações naturais da vida, como o fim de um namoro, a derrota do time de futebol, a perda de um emprego.
Sabrina Oliveira orienta os pais a ajudar as crianças e adolescentes a agir quando se sentem frustrados:
1ª etapa: acolher o sentimento, sem minimizá-lo;
2ª etapa: estimular a autonomia do filho, com frases como “o que você pode aprender com essa situação?”, “o que você pode fazer sobre isso agora?”;
3ª etapa: colocar-se à disposição, dizendo coisas do tipo “como posso te ajudar?”.
“Às vezes os pais pulam as três etapas e vão direto resolver o problema para o filho, acreditando que isso é o melhor a fazer. Mas proponho uma reflexão aqui: Tente se lembrar das situações difíceis da sua vida e de como ter encontrado soluções para os obstáculos aparentemente intransponíveis foi importante para fortalecê-lo como indivíduo, ajudando-o a criar resiliência para os impasses futuros. Por que privar seu filho dessa oportunidade?”, considera Sabrina.