Chegou a hora de dormir. É nesse momento que as crianças querem contar como foi o dia (em detalhes!), reclamar sobre algo que desagradou, mostrar o que aprenderam na escola, questionar por que o príncipe deu um beijo sem consentimento na Branca de Neve, decidir a roupa do dia seguinte ou até o tema da festa de aniversário do ano que vem.
O tempo vai passando e o pai olha para o relógio, impaciente, pensando nas roupas para lavar, na pia cheia de louça ou no relatório de trabalho a terminar. Ato contínuo, a mãe se lembra do filho da prima daquela vizinha que dorme sozinho desde os 2 meses de idade, e começa a elucubrar o que pode estar fazendo de errado para que o seu, aos 7 anos, ainda dê tanto trabalho para se deitar.
Se esse tipo de situação é familiar para você, leia o que Marcia Belmiro tem a dizer:
“O tempo de sono insuficiente para crianças está associado a uma série de consequências que podem ser graves, tais como: déficit de atenção, irritabilidade, dificuldades de aprendizagem e até mesmo obesidade infantil. Isso ocorre porque a privação de sono influencia diretamente a produção hormonal dos pequenos, o que afeta necessariamente todo o funcionamento do organismo.
Uma grande quantidade de pais se queixa por não conseguir fazer os filhos dormirem. Isso começa a ser mais frequente a partir da entrada da criança na escola, mas também pode se apresentar antes. As pesquisadoras Isabel Madeira e Leda Aquino (no artigo Problemas de abordagem difícil: ‘não come’ e ‘não dorme’) apontam que esta questão está associada, na grande maioria das vezes, à rotina de sono estabelecida pelo sistema familiar. Desta forma, entendemos que é um problema que pode ser trabalhado com alto índice de sucesso pelo KidCoach junto às famílias.
De maneira geral, os fatores do sistema familiar que influenciam no sono da criança incluem a organização do ambiente, bem como sua iluminação, os horários de alimentação, a preparação para dormir, a realização de atividades inadequadas perto da hora do sono, falta de estabelecimento de limites claros pelos pais e de insistência para o cumprimento da rotina saudável combinada.
É comum também que os pais, muito envolvidos com uma grande carga horária de trabalho, possam se sentir culpados por estar pouco tempo com seus filhos e acabem cedendo a todo tipo de exigência da criança na hora de dormir, o que pode ser extremamente prejudicial a ela própria.
Também foi apontado neste artigo que o uso de rádio e televisão para auxiliar a criança a dormir é danoso, pois a criança associa esse estímulo ao sono e se torna dependente dele. Além do mais, a exposição a telas pode causar o efeito contrário: despertar a criança em vez de induzi-la ao sono, ou induzi-la a um sono superficial, incapaz de alcançar as fases mais profundas.
Como lidar?
Para ajudar a criança a dormir podem ser utilizados com eficiência alguns exercícios de relaxamento específicos para a faixa etária, que vão ensiná-la a se tornar consciente de sua respiração e de seu corpo de forma lúdica. É importante dizer que o uso de medicamentos para induzir o sono em crianças somente deve ser utilizado em última hipótese, pois podem causar dependência física e emocional para o resto da vida. Se for necessário o uso de medicação, é imprescindível o acompanhamento médico adequado e o cumprimento das orientações médicas à risca.
O KidCoach
Fará perguntas para trazer à tona, à consciência e ao entendimento dos pais como ocorre a dinâmica familiar no que diz respeito à rotina do sono, bem como as questões do relacionamento entre familiares que podem interferir no sono da criança. A partir desse ponto, o profissional vai estimular os pais a encontrarem novas atitudes e ações que correspondam ao objetivo de levar seu filho a uma rotina naturalmente saudável de descanso e sono.
Desenvolvimento infantil
A partir de mais ou menos 10 meses a vida social do bebê se intensifica. Ele reconhece as pessoas já desde os 8 meses, estranha as pessoas com quem não convive com frequência e, daí em diante, interage cada vez mais com as pessoas e com os estímulos que percebe no mundo como sendo extremamente interessantes. Esse mundo atrativo e entusiasmante faz com que o cérebro infantil experimente conexões que servirão para construir memórias significativas de longo prazo e traz enorme excitação mental, muscular e hormonal, podendo haver períodos de dificuldade para conciliar o sono.
Com o passar dos anos, uma criança vívida e com desenvolvimento saudável se interessa mais e mais pelas experiências que o estado de vigília oferece. Quanto mais estimulada, mais animada e ativa ela fica, menos quer se desligar do ambiente externo e se entregar ao repouso.
A partir dos 2-3 anos, a criança consegue acompanhar diálogos que os pais podem travar com ela, auxiliando-a a ver as possíveis perdas que terá por não descansar e por não repousar o suficiente, e também os ganhos que obterá em deixar-se levar para cama.
Use perguntas do tipo:
– Você conseguirá brincar amanhã com sono?
– O que você perde na escola amanhã por sentir sono ou sem energia?
– Se você dormir agora e descansar bem, quais brincadeiras vai estar mais disposto para criar com seus amigos amanhã na escola?
– Como você precisa estar amanhã para brincar bastante?
– O que você vai ganhar indo dormir agora?
– O que você ganha por ficar acordado e estar cansado na escola?
– Se formos dormir mais cedo, o que poderemos fazer amanhã?
– Para você brincar de tudo que gosta amanhã vai precisar estar como?
As perguntas a seguir ajudam a criança compreender o que é tão bom e prazeroso que pode sabotar seu descanso. A partir dessa descoberta os pais podem conversar e encontrar alternativas junto com a criança para que ela continue obtendo os prazeres que sente em estar desperta, e ao mesmo tempo alterar o comportamento sabotador:
– O que você gosta tanto de fazer que é mais gostoso ou mais legal que dormir e descansar?
– O que podemos fazer para você conseguir aproveitar tudo isso de que gosta tanto estando mais animado?
– Como podemos tornar seu soninho mais gostoso e divertido? Com o que seria muito gostoso sonhar?
Os adultos cuidadores da criança precisam estar num estado de paz e calma para fazer as perguntas acima e para conseguirem conduzir a criança para a cama. Definitivamente não será com briga nem com voz alta que a criança dormirá mais, adormecerá mais depressa ou mais cedo.
Seguir rotina e ter disciplina quanto aos horários de alimentação, higiene e sono são extremamente organizadores para o bem-estar da criança. Ao criar hábitos, a criança aprende com maior facilidade o que deve ser feito e de que maneira será melhor para ela própria e para o seu ambiente funcionar melhor. E isso lhe trará sossego, paz e tranquilidade.
Os pais podem definir o que eles entendem como sendo o melhor para seu filho e para a rotina doméstica, fazendo combinados e regras de horários e pequenos rituais para a criança entender que está na hora de silenciar a mente e adormecer. Os pais devem usar voz firme, segura e ao mesmo tempo tranquila na hora de fazer valer o combinado. Ex.: “Filho, agora são 9 da noite e você vai dormir para estar bem-disposto ao acordar amanhã.”
A hora de dormir não tem que ser um momento dramático. Ao contrário, pode e deve ser uma oportunidade de conexão entre o cuidador e a criança, e de relaxamento para ambos. Ao colocar a criança na cama, use intencionalmente alguns minutos com atividades que farão a criança descansar melhor, como: visualizações, contação de histórias, músicas cantadas, orações (pode ser também um ritual de agradecimento, caso a família não seja religiosa), ou até recitar números em tom monótono (a famosa técnica de contar carneirinhos – ou super-heróis, ou sapatos de uma centopeia).”
Fonte:
Livro Programa de Formação Kids Coaching, módulos 2 e 6 – Integrante do Programa de Formação Kids Coaching.