“A que horas você volta para casa?”
“Não sei.”
“Quem vai a essa festa?”
“Não sei.”
“Você foi bem na prova?”
“Aham.”
Seu filho adolescente responde com monossílabos a todas as suas perguntas? Ou ainda: fala muito sobre tudo – o vídeo engraçado que viralizou, a última polêmica nas redes sociais, o cantor super famoso que aparentemente só ele sabe que existe –, menos sobre o que você considera importante?
Frequentemente recebemos de nossa audiência perguntas do tipo “como posso fazer para meu filho adolescente se abrir?”. No entanto, a estratégia começa ineficaz já na pergunta. Ninguém é capaz de fazer alguém – especialmente um jovem – se abrir à força, isso só vai acontecer quando seu filho se sentir seguro e conectado.
E como criar essa conexão com um adolescente que não para em casa, e quando para foge de qualquer conversa? Ao contrário do que possa parecer, os jovens querem – mais que isso, precisam – de afeto, proximidade e segurança proveniente dos pais.
Eles fogem, na verdade, do que interpretam como cobranças e brigas. Ou seja, enquanto o adolescente perceber suas tentativas de aproximação como um longo questionário a responder, provavelmente não vai se abrir.
Confira nossas orientações para facilitar o diálogo com seu filho adolescente:
- Troque o tom interrogatório (querendo ter controle da situação e deixar claro quem manda) pelo tom de curiosidade verdadeira (sem censuras ou julgamentos).
- A forma de perguntar é importante. Perguntas fechadas (como “você foi bem na prova?”) têm mais probabilidade de gerar respostas monossilábicas. No entanto, perguntas como “o que você acha disso?”, “qual a sua visão sobre esse assunto?”, favorecem respostas nas quais o adolescente vai expor mais seus sentimentos e pensamentos.
- Antes de criticá-lo, primeiro pense se a conduta do jovem é realmente reprovável ou só não vai ao encontro das suas opiniões pessoais. Depois, avalie se o seu comentário vai trazer algo de bom para a conversa. Pense na possibilidade de trocar a crítica por um auxílio à reflexão do jovem, provocando nele a autocrítica (que de maneira geral é bem mais eficaz).
- Evite se colocar acima de seu filho, como “dono da verdade”. Ao contrário, dê a si mesmo a oportunidade de aprender com a nova geração e seu olhar de estreia para a vida.
- Permita-se mostrar a própria vulnerabilidade. Não existe ser humano perfeito. Parece clichê, mas muitos pais e mães ainda têm essa ilusão. Acreditam que se os filhos perceberem que os pais também não sabem tudo, sentem medo e falham vão se sentir inseguros. Ao contrário, ao mostrar suas imperfeições, os pais ensinam os filhos a também se aceitarem como são.
- Respeite o tempo do seu filho. Imagine uma mulher adulta chegar em casa preocupada com um problema de trabalho, e seu companheiro exigir que ela fale na mesma hora tudo o que a aborrece? Essa mulher pode se sentir desrespeitada com tal atitude. O mesmo acontece com os adolescentes. Se perceber que não há abertura no momento, use frases como “vejo que você não quer falar sobre isso agora, mas quando quiser vou estar no quarto”.
- Conversas profundas e empáticas não acontecem na pressa, com outras demandas pedindo atenção a todo tempo. Tente separar momentos na rotina para a família se reunir com tranquilidade, como a hora da refeição ou um passeio no fim de semana.
- Evite expor o adolescente para outras pessoas – na frente dele e principalmente pelas suas costas –, com piadinhas, apelidos ou histórias nas quais ele se sinta humilhado (mesmo que para você pareçam inofensivos).
- Não menospreze seus sentimentos e problemas, mas tente entendê-los sob a ótica do jovem. Se for difícil, talvez ajude lembrar de sua própria adolescência e como tudo parecia tão grande naquela época.