“Marcelo vivia fazendo perguntas a todo mundo:
– Papai, por que é que a chuva cai?
– Mamãe, por que é que o mar não derrama?
– Vovó, por que é que o cachorro tem quatro pernas?
As pessoas grandes às vezes respondiam.
Às vezes, não sabiam como responder.”
Esse é o início de Marcelo, marmelo, martelo, clássico de Ruth Rocha publicado pela primeira vez em 1976. Como qualquer pessoa que tem filhos sabe, as gerações passam, mas em qualquer tempo as crianças fazem muitas perguntas – o que pode ser constrangedor e até exaustivo para os adultos.
Em 2013, o site Littlewoods, do Reino Unido, fez uma pesquisa entre mães de crianças de 2 a 10 anos, e a conclusão foi de que os pequenos fazem, em média, 300 perguntas por dia. Algumas questões são fáceis, como “onde está meu carrinho?”, mas outras deixam os pais, como no livro de Ruth Rocha, sem saber o que dizer.
Pensando nisso, fizemos uma lista dos tipos de perguntas mais comuns entre as crianças e como mães e pais podem respondê-las. Confira:
- Funcionamento do corpo humano e sexualidade
Exemplos: “como nascem os bebês?”, “por que meninas não têm pipi?”
- Perguntas relacionadas à natureza
Exemplos: “como chove?”, “do que é feita a estrela?”
- Funcionamento dos objetos do dia a dia
Exemplos: “as pessoas ficam dentro da televisão?”, “como todas aquelas coisas ficam guardadas no canivete?”
- Questões sociais
Exemplos: “por que tem gente sem casa?”, “por que algumas pessoas têm muito dinheiro e outras passam fome?”
- Questões existenciais
Exemplos: “por que eu existo?”, “o que acontece depois da morte?”
Não vamos aqui dar uma “receita de bolo” sobre como responder às perguntas de seus filhos, porque não acreditamos nisso e também porque cada família sabe das necessidades de suas crianças, tomando por base seus valores e crenças. Vamos, no entanto, jogar luz sobre alguns aspectos que consideramos importantes ao ouvir o famoso “por quê?” infantil.
Em primeiro lugar, é indicado sempre responder. Fingir que não escutou, apelar para o “depois a gente conversa…” ou simplesmente dizer “isso não é assunto de criança” veta o desenvolvimento intelectual da criança e não é nada efetivo. A criança provavelmente não vai esquecer do assunto e buscará resolver sua curiosidade de outra forma (amigos, internet), que não necessariamente vai ser confiável nem dar informações corretas.
Em especial na era das fake news em que vivemos, não vale a pena terceirizar as perguntas do seu filho e correr esse risco. Além disso, quando os pais se mostram dispostos a acolher as questões das crianças, isso fortalece o vínculo de confiança, o que vai ser fundamental na adolescência, fase na qual, em geral, os filhos se afastam dos adultos de referência.
Como responder?
Para facilitar o entendimento de conceitos abstratos, como ciência e filosofia, dê preferência a palavras conhecidas e metáforas. Mesmo que você fique super empolgado em falar sobre assuntos sobre os quais também gosta, pode se ater ao que foi perguntado. Quando a criança questiona como um imã atrai outro, por exemplo, você não precisa dar uma aula de eletromagnética avançada, sob o risco de o pequeno achar o assunto chato e perder o interesse.
Fale sempre a verdade. Quando mentimos ou inventamos uma resposta, mesmo sobre um tema que a criança desconhece, ela percebe que há algo errado. Quando se trata de assuntos espinhosos, como morte e sexo, é comum os adultos transferirem para a criança uma dificuldade que na verdade é deles. Mostre-se disponível para responder a outras dúvidas que surgirem, deixando o pequeno à vontade para buscar esse diálogo.
Quando você não souber a resposta, pode dizer isso com naturalidade. Seu filho não vai pensar que você é tolo ou ignorante, mas sim que é honesto. Você pode propor a ele fazerem pesquisas juntos, em livros ou em sites confiáveis da internet, ou ainda telefonar para algum conhecido que entenda do assunto. Outra opção é perguntar a ele “o que você acha?”. Assim, vocês podem construir hipóteses e testá-las. Isso vai estimular ainda mais o espírito científico natural da criança.
Outras formas de matar a curiosidade das crianças:
Podcast Coisa de Criança
Em episódios curtos, Thiago Queiroz (o criador da plataforma Paizinho Vírgula) e sua esposa, Anne Brumana, falam sobre questões como “por que chove?” e “para onde vai o sol de noite?”. Disponível em todas as plataformas de streaming, como Spotify e Deezer.
Pergunte aos StoryBots
Nas três temporadas da série, robôs de animação respondem perguntas que crianças reais, sempre com explicações científicas de fácil compreensão. Disponível na Netflix.
O Show da Luna
Neste desenho animado brasileiro, Luna (uma menina de 6 anos), seu irmãozinho, Júpiter, e o furão de estimação da família, Cláudio, se aventuram com o lema: “Eu quero saber, eu preciso saber!” Disponível no canal fechado Discovery Kids e no Now.
Fonte:
“Mothers asked nearly 300 questions a day, study finds”. Disponível em: https://www.telegraph.co.uk/news/uknews/9959026/Mothers-asked-nearly-300-questions-a-day-study-finds.html