Entre as principais dores dos adolescentes está lidar com o próprio corpo e as mudanças que ocorrem fisicamente nessa etapa da vida. Por conta das alterações metabólicas e do grande gasto de energia para fazer o corpo crescer, o resultado naturalmente é uma dose extra de sono, que se traduz em um comportamento de fadiga e cansaço constante.
Para os pais, o fato de o filho querer dormir até tarde e não se dispor a ajudar nas tarefas domésticas, por exemplo, pode ser visto como preguiça, malcriação, indolência. Mas Mônica Geraldi Valentim, no artigo “Preguiça: um problema da adolescência negligenciado pela pesquisa?”, analisa que muito desse comportamento pode estar relacionado à secreção de melatonina, hormônio envolvido na indução do sono.
A pesquisadora cita que existem evidências de que os adolescentes têm um atraso no início desse processo. Enquanto nos adultos a liberação da melatonina ocorre em torno das 22h, em adolescentes isso se dá em torno de 1h da manhã, com consequente retardo do início do sono, gerando um débito constante de sono.
“Os adolescentes têm sido obrigados a levantar cedo, em função das obrigações escolares […] Além disso, um ciclo vicioso talvez se forme com a redução da exposição de luz solar durante o dia, em função da mudança das antigas brincadeiras de rua para jogos de videogame e atividades relacionadas à internet desenvolvidas em ambiente fechado […] A consequente falta de sono à noite faz com que os adolescentes fiquem ainda mais envolvidos com computadores durante esse período, provavelmente deixando de obter o equilíbrio de que seus corpos necessitam.”, observa Valentim.
Para os pais que se preocupam com essa situação, Sabrina Oliveira orienta que, em primeiro lugar, o médico que acompanha o adolescente verifique se está tudo bem com sua saúde, se seu sono está sendo reparador e se sua alimentação supre as necessidades energéticas e de nutrientes.
“Não se pode esquecer da importância de gastar energia. Se o adolescente fica só no sofá, inevitavelmente vai se sentir mais cansado. Movimentar o corpo, correr, praticar esportes são atividades que produzem serotonina e consequente bem-estar, aumentando a disposição”, afirma Sabrina.
Outras orientações para ajudar os pais a lidar com o cansaço constante do filho adolescente:
– O sono noturno é importante para o bom funcionamento do corpo e da mente. Para não atrapalhar a indução do sono, o ideal é desligar todas as telas (celular, computador, videogame) pelo menos uma hora antes de dormir.
– É comum que os filhos, na infância, sejam ativos e se alimentem bem, mas com a chegada da adolescência desenvolvem outros interesses, ficam mais tempo fora de casa e como consequência criam hábitos não tão saudáveis. A adolescência é um ensaio da vida adulta em diversos aspectos, e as pessoas que adotam bons hábitos nessa fase têm mais chance de segui-los pelo resto da vida.
– Quando os pais forem conversar sobre esse assunto com o filho, o ideal é fugir da tentação de rotulá-lo como preguiçoso ou algo do tipo – até porque isso não vai fazê-lo mudar de atitude, muito pelo contrário. A comunicação deve ser franca e clara, ajudando o jovem a ver tudo que ele perde por não ter disposição, e colocando-se à disposição para ajudá-lo a buscar novas atitudes.
Fonte:
“Preguiça: um problema da adolescência negligenciado pela pesquisa?”. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/104680/valentim_mg_dr_botfm.pdf?sequence=1&isAllowed=y