Os adolescentes nunca foram tão infelizes. Essa é a conclusão de Jean Twenge, professora de psicologia na Universidade Estadual de San Diego (EUA). A cientista conduziu um estudo com 1 milhão de jovens norte-americanos entre 13 e 18 anos, de 1991 e 2017, para analisar seus níveis de autopercepção de bem-estar.
Twenge identificou uma alta no sentimento de felicidade entre os adolescentes durante os anos 1990 e 2000, mas uma queda geral a partir de 2012. Esse marco, de acordo com a pesquisa, não aparece por acaso: foi em 2012 que a maioria dos norte-americanos passou a ter smartphones.
“Na última década, a quantidade de tempo que os adolescentes gastam em atividades virtuais (especialmente mídias digitais, como jogos, redes sociais, mensagens de texto e tempo on-line) tem aumentado constantemente […]. Em 2017, o aluno médio do 12º ano (17-18 anos) passou mais de 6 horas livres por dia em apenas três atividades de mídia digital (internet, redes sociais e mensagens de texto). Em 2018, 95% dos adolescentes dos Estados Unidos tinham acesso a um smartphone e 45% disseram que estavam on-line “praticamente o tempo todo”, relata Twenge.
A pesquisadora afirma que nesse mesmo período os adolescentes começaram a passar menos tempo interagindo outras pessoas presencialmente, incluindo estar em reuniões com amigos, festas, cultos religiosos, ler livros e revistas, e principalmente passaram menos tempo dormindo. Essa diminuição é proporcional ao aumento do uso de mídias digitais – e ao declínio na felicidade geral.
Em seu artigo, intitulado “The Sad State of Happiness in the United States and the Role of Digital Media” [O triste estado de felicidade nos Estados Unidos e o papel das mídias digitais], Twenge conta que meninas que passam 5 ou mais horas por dia nas redes sociais têm 3 vezes mais chances de terem depressão em relação a não usuárias.
Twenge analisa que isso pode se dar por dois motivos principais: porque as pessoas se comparam ao recorte da vida das outras que é divulgado nas redes, e também pelo cyberbullying. A pesquisadora destaca que esses fatores, somados ao distanciamento social e à falta de sono adequado, são fatores de risco claros para infelicidade e redução de bem-estar.
“Algo surpreendente foi nossa descoberta de que adolescentes que não usavam nada de mídias digitais eram na realidade um pouco menos felizes do que aqueles que usavam um pouquinho as mídias digitais (menos que uma hora por dia). A felicidade então vai decrescendo continuamente conforme aumentam as horas de uso. Assim, os adolescentes mais felizes eram aqueles que usavam mídias digitais, mas por um período limitado de tempo. A resposta então não é abandonar completamente a tecnologia. Em vez disso, a solução é um adágio conhecido: tudo em moderação. Use seu telefone para todas as coisas legais para que ele serve. E então deixe ele de lado e vá fazer outra coisa”, aconselha Twenge.
Fontes:
“The Sad State of Happiness in the United States and the Role of Digital Media”. Disponível em: https://s3.amazonaws.com/happiness-report/2019/WHR19_Ch5.pdf
“O que pode explicar a epidemia de infelicidade?”. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/externo/2018/02/03/O-que-pode-explicar-a-epidemia-de-infelicidade