Seu filho não aceita perder em nenhum jogo, seja de sorte ou que exija alguma habilidade? Sofre exageradamente quando o time de futebol do coração é derrotado no campeonato?
Algumas crianças já nascem com uma tendência à competitividade, e nessa situação os pais podem ficar sem saber como agir: tentar proteger o filho, evitando suas frustrações e até deixando o pequeno ganhar nas brincadeiras? Ou matriculá-lo num esporte coletivo, para que possa aprender sobre trabalho em equipe?
Outras vezes são os pais que estimulam a competitividade, sempre com as melhores intenções, pois entendem que só assim as crianças serão bem-sucedidas quando tiverem que enfrentar o mundo na idade adulta. Em alguns casos até os pais incentivam a competição sem se darem conta disso (por exemplo, quando a mãe diz: “Quero ver quem vai terminar o almoço primeiro!”).
Querer vencer é natural
Quando uma pessoa vence algo, seu cérebro recebe uma descarga de dopamina, dando-lhe uma sensação de prazer imediata. Essa sensação é natural e positiva, favorecendo um estado de bom humor e contentamento. No entanto, a obtenção de dopamina não é condicionada à derrota do outro, mas a superar os próprios limites.
“Existem inúmeras atividades que podem gerar dopamina sem estimular a competitividade, como montar um quebra-cabeça difícil, empenhar-se em nadar cada vez melhor e fazer brincadeiras que dependam do esforço coletivo para atingir um objetivo, como decifrar um enigma a partir de pistas”, enumera Marcia.
Como agir com filhos competitivos?
Os pais podem ajudar a criança incentivando-a a olhar para si e perceber se a competitividade está causando algum prejuízo em sua vida ou em seus relacionamentos (ex.: os amiguinhos não convidam mais para brincar porque ela já destruiu um jogo depois de ter perdido).
Caso isso esteja acontecendo, os pais podem auxiliar o filho a canalizar a competitividade de modo positivo, transformando-a em cooperação. Marcia Belmiro orienta que, ao contrário do que muitos pensam, pode não ser uma boa estratégia incentivar os esportes (pelo menos não participando de disputas ou torneios), sob o risco de acirrar ainda mais a competitividade natural da criança.
“Um exemplo de boa pergunta que pode ser feita ao filho é: ‘O que você ganha de verdade se vencer tal disputa?’ A ideia é levar o pequeno ao entendimento de que vencer não tem um fim em si mesmo, que aproveitar o processo e os aprendizados que ele proporciona pode ser muito mais prazeroso. Deixar seu filho perder também é importante. Em vez de ver a derrota como fracasso ou atestado de incompetência, a criança pode entendê-la como a possibilidade de aprender com o erro, descobrindo uma forma de fazer melhor da próxima vez. Nessas situações, os pais podem ensinar resiliência ao filho, uma habilidade socioemocional importante para toda a vida”, analisa Marcia.