Quando nasce um bebê, nasce uma mãe. Esse ditado famoso esconde uma parte importante: Quando nasce uma mãe, morre uma mulher sem filhos.
Aquela mulher de antes, que ao longo de tantos anos teve um corpo, gostos e rotinas familiares – ainda que às vezes desagradáveis – de uma hora pra outra vai mudar. E aquela mulher de antes, não importa o que digam, não volta mais.
A nova mulher pode, depois de algum tempo, voltar a trabalhar, sair para tomar chope, viajar sozinha. Mas essa mulher, agora mãe, não é mais dona absoluta do seu tempo nem dos seus planos, não vai mais se dar ao luxo de tomar uma decisão importante pensando só em si mesma. Agora sempre vai existir outro ser em seus planos, mesmo quando ele já for adulto. E isso é muito.
Essa reviravolta, talvez por não ser falada abertamente (nas rodas de amigas, nos cursos preparatórios para a maternidade, nas conversas com as matriarcas da família), na maioria dos casos é totalmente inesperada.
Nesse momento é comum surgirem sentimentos ambivalentes: apesar da felicidade de ter nos braços o que há de mais precioso no mundo, os amigos não ligam mais como antes e parece que as responsabilidades novas, somadas às antigas, se tornaram pratinhos impossíveis de equilibrar.
Quando isso acontece, a recém-mãe fica pensando que, para ninguém ter falado nada sobre esse sentimento de luto, ela deve ser a única a passar por isso. Ou ainda: que o que vem a seguir é pior, e por isso ninguém teve coragem de contar a ela, e só lhe resta aceitar – “dói menos”, dizem.
A alegria de deixar para trás a vida como ela era
A boa notícia é: essa grande mudança pode ser uma revolução, uma oportunidade única de se redescobrir, mais autêntica e empoderada do que nunca.
São os momentos de maior vulnerabilidade que propiciam as grandes oportunidades de crescimento. A mulher-mãe, nesse ponto, se assemelha a uma lagosta, que só pode crescer se deixar para trás a casca protetora da vida como ela era e esperar que outra nasça – maior e ainda mais forte.
Entrar nesse terreno desconhecido naturalmente gera angústia e exige coragem, como um rito de passagem para todas as mudanças que estão por vir nessa viagem ao mundo inédito – por vezes maravilhoso, em outras hostil – da maternidade.