De modo geral, fala-se sobre a importância de ensinar consentimento às crianças como forma de evitar abusos sexuais – o que é fundamental, especialmente levando em conta que todos os anos são feitas no Brasil em média 20 mil denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes no Brasil, e em mais de 70% desses casos o abusador era uma pessoa próxima à vítima.
No entanto, é preciso irmos ir além disso. Ao abordarmos esse tema com as crianças desde bem pequenas estamos ajudando a criar jovens adultos com empatia pelos outros, indivíduos capazes de ter relações saudáveis – sejam elas amorosas, de amizade ou de trabalho.
Criar uma criança com respeito é comprovadamente a melhor forma de ensiná-la sobre consentimento, com regras claras dentro da família, em que a máxima “não é não” é respeitada por todos, crianças e adultos.
Uma habilidade socioemocional a ser desenvolvida
Entre as 14 principais habilidades socioemocionais necessárias para uma vida saudável estão: Recusar pedidos; expressar opiniões pessoais, inclusive o desacordo; expressar incômodo, desagrado ou enfado; pedir a mudança de conduta do outro.
“Quando os pais falam com as crianças desde cedo sobre a importância do consentimento, isso será de grande ajuda para incutir nos pequenos a noção do que é bom para si e o que não é, sendo um treino fundamental para que futuramente possam fazer boas escolhas por conta própria”, analisa Marcia Belmiro.
O site norte-americano Good Men Project fez um apanhado de orientações para os pais que querem abordar o consentimento com seus filhos a partir de 1 ano de idade.
Seguem aqui as 5 melhores dicas:
1. Ensine as crianças a pedir permissão antes de tocar ou abraçar um coleguinha. Fale coisas como: “Sarah, vamos perguntar ao Joe se ele gostaria de dar um abraço de despedida.” Se Joe disser “não” a esse pedido, diga a sua filha: “Tudo bem, Sarah! Vamos dar tchau de longe para Joe.”
2. Ajude a criar empatia em seu filho, explicando como algo que ele fez pode ter magoado alguém. Fale coisas como: “Eu sei que você queria aquele brinquedo, mas quando você bateu em Mikey, o machucou e ele se sentiu muito triste. E não queremos que Mikey se sinta triste.”
3. Ensine a seus filhos que “não” e “pare” são palavras importantes e devem ser honradas. Uma maneira de explicar isso pode ser: “Sarah disse ‘não’ e, quando ouvimos ‘não’, sempre paramos o que estávamos fazendo imediatamente. Não importa o quê.”
4. Nunca force uma criança a abraçar, tocar ou beijar ninguém, por qualquer motivo. Se a vovó está exigindo um beijo e seu filho é resistente, ofereça alternativas, dizendo algo como: “Você prefere dar um high-five ou mandar um beijo para ela?”
Você sempre pode explicar para a vovó, mais tarde, o que está fazendo e por quê. Mas não dê muita importância a isso na frente de seu filho. Se for um problema para a vovó, que seja, seu trabalho agora é fazer o que é melhor para seu filho e dar-lhe as ferramentas para estar seguro e feliz.
O mesmo serve para os pais: Se a criança não está gostando da brincadeira ou das cócegas, deve saber que pode dizer “pare” e sua vontade será respeitada. Aqui, o lema é: “Brincadeira é quando todos estão gostando.”
5. Dê às crianças a oportunidade de dizer sim ou não nas escolhas do dia a dia também. Na medida do possível, deixe-as escolher as roupas e opinar sobre como as situações de rotina serão realizadas.
Importante: não é SE vão ser realizadas, mas COMO. Ex.: A criança vai tomar banho todos os dias, mas a que horas isso vai acontecer pode ser definido por ela.
Fontes:
“The Healthy Sex Talk: Teaching Kids Consent, Ages 1-21”. Disponível em: https://goodmenproject.com/families/the-healthy-sex-talk-teaching-kids-consent-ages-1-21/
“Mais de 70% da violência sexual contra crianças ocorre dentro de casa”. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2019-05/mais-de-70-da-violencia-sexual-contra-criancas-ocorre-dentro-de
“As 14 principais Habilidades Sociais do ser humano” – Parte integrante do Livro de Atendimento Parental, Familiar e Escolar, incluso no material da Formação Kids Coaching.