Muitos pais e mães, na esperança de ensinar aos filhos a cumprirem suas tarefas e serem cooperativos, acabam prometendo recompensas às crianças e adolescentes. Os defensores dessa prática afirmam que funciona, mas o pesquisador Alfie Kohn faz um alerta em seu livro Punidos pelas recompensas:
“A criança que obedece na esperança de ganhar uma recompensa ou de evitar uma punição não está, como às vezes se diz, ‘conduzindo-se por si mesma’. Seria mais exato dizer que a recompensa ou a punição a está conduzindo.”
Kohn sustenta a tese de que punições e recompensas são, na verdade, dois lados da mesma moeda. Isso porque, ao prometer algo para o filho com o objetivo de que realize atividades como estudar, organizar seus pertences e comer legumes, os pais deixam implícito que caso não façam o “combinado”, eles perderão algum privilégio (tempo extra no videogame, o direito à sobremesa ou até dinheiro). Ou seja, o que era recompensa ganha contornos claros de punição em caso de não cumprimento.
De acordo com a pesquisa de Kohn, os indivíduos que são tratados à base de recompensas (sejam crianças ou adultos) costumam fazer apenas o mínimo necessário para que a tarefa seja considerada feita, e frequentemente exigem recompensas cada vez maiores. Além disso, as recompensas geram aumento de competitividade entre os pares, o que pode minar a cooperação.
Alfie Kohn vai além, e questiona a motivação dos pais quando apostam nas recompensas e punições: “É necessário que [os pais] sejam honestos para recompensar ou punir, perguntando-se para quem estão agindo assim (para as crianças ou para eles?) e para quê (para o desenvolvimento de valores reais ou visando à mera obediência?).”
Alternativas às recompensas
Em vez do sistema recompensas-punições, Kohn sugere o estímulo à motivação intrínseca, o que Daniel Goleman chamou de automotivação. Ou seja, é fazer o que precisa ser feito por compreender a importância de determinada tarefa, não para obter algo em troca. Nesse caso, a gratificação vem pelo trabalho feito em si (ex.: a satisfação de encontrar todos os brinquedos num quarto organizado), não por algo externo.
A esse respeito, Marcia Belmiro propõe o uso do reforço positivo no lugar da promessa de recompensas. Ou seja, depois que a criança tem um comportamento desejado, o adulto faz elogios específicos e verdadeiros sobre seu esforço e sobre os resultados obtidos, e pode até oferecer algo a ela, desde que não seja algo sistemático nem previamente combinado.
E quando a criança ou o adolescente não tem a atitude esperada? Nesse caso, não adianta mandar para o cantinho do pensamento, restringir o acesso à televisão ou aplicar um castigo. O melhor aqui é usar consequências. Exemplo: Se o filho deixou o quarto bagunçado e por isso perdeu o livro de matemática, ele chegará atrasado à escola ou irá sem o material.
Importante: Os pais dizem isso ao jovem não com o objetivo de humilhá-lo (com frases como “eu avisei”, ou “você é um bagunceiro”), mas de forma firme e carinhosa. Dessa forma, ele vai compreender de fato que seus pertences são de sua responsabilidade.
Fonte:
Punidos pelas recompensas. Alfie Kohn, 2019. Ed. Atlas.