Você tem percebido que seu filho anda omitindo fatos – ou pior, mentindo mesmo?
Você se preocupa e faz a si mesma perguntas como: “Com quem ele aprendeu isso?”; “Será que ele vai se tornar um mentiroso compulsivo no futuro?”; “Devo buscar um psicólogo ou médico?”
Você não sabe o que fazer nessas situações, e acaba reagindo com agressividade ou deixando para lá, na esperança de que seja só uma fase?
Em primeiro lugar, muito do que os adultos entendem como mentira faz parte da imaginação infantil, especialmente nas crianças pequenas. Quando sua filha de 5 anos diz que entrou num foguete e visitou a Lua ela provavelmente imaginou isso com tantos detalhes (ou até sonhou) de uma forma que, para ela, isso é real.
Até certa idade não existe ainda um contorno bem definido entre realidade e fantasia, o que acontece naturalmente à medida que o indivíduo cresce.
Quando a mentira é um problema
Se, no entanto, você percebe que a criança dá versões diferentes da mesma história dependendo de com quem está falando, ou de alguma forma prejudica a si mesma ou a outras pessoas com o que diz, aí é hora de acender o sinal de alerta.
Um caso muito comum é quando os pais são separados e o filho quer agradar a ambos, mas não tem noção das consequências da mentira. Por exemplo: A criança vai para a casa do pai na sexta-feira à noite e acha que deve jantar antes com a mãe, para que esta não se sinta sozinha.
Quando chega à casa do pai e vê a mesa posta, não quer despontá-lo dizendo que já comeu, e aí janta novamente. No fim da noite a criança está passando mal e os pais não sabem o que aconteceu.
Veja bem: neste caso nem a mãe nem o pai pediram que a criança mentisse, menos ainda que comesse além da conta. Acontece que quando a criança percebe que não há um diálogo entre os adultos ela pode se sentir responsável por resolver essa situação – sem ter maturidade psicológica tampouco neurológica para tal.
Ou seja, nesse exemplo muito simples que demos aqui ninguém “ensinou” a criança a mentir, ela apenas achou que isso seria a melhor solução para (em sua cabecinha) não magoar ninguém.
Nessa situação brigas e castigos não ajudam, assim como não ajuda nada ficar discutindo de quem é a culpa.
O que adianta:
Acolher a criança sem julgamentos, ouvindo o que ela tem a dizer, valorizando o fato de ter dito a verdade (mesmo que depois) e mostrando, com firmeza gentil, a importância de sempre falar a verdade e da confiança mútua.
Caso a mentira da criança traga alguma consequência, deixe-a lidar com isso, mas sabendo que os adultos estão a seu lado. No exemplo acima, a criança passou mal por ter comido demais.
Os pais cuidam do pequeno (dão um chá ou algo para auxiliar na digestão) e o ajudam a relacionar a consequência (mal-estar) à causa (jantar duas vezes), mas não caem na tentação de dizer frases como “bem-feito!”, “quem mandou mentir para mim?”, “agora aguenta!”.
Depois de passada a situação, os adultos podem conversar com o filho e elaborar juntos como podem fazer da próxima vez para que não isso não aconteça novamente (ex.: combinar antes na casa de quem a criança vai jantar).
Além disso, os adultos ajudam muito a criança quando dão o exemplo de falar sempre a verdade, mesmo nas pequenas coisas, reforçando a importância da ética nas relações. Não adianta dizer a seu filho que mentir é errado se você sempre diz “na volta a gente compra” quando não tem a menor intenção de fazê-lo.