Muitas mães não sentem vontade de brincar com os filhos. Quando isso acontece, elas costumam relatar um sentimento de culpa. Afinal, existe algo de errado em não querer brincar com os filhos? E o que fazer quando isso acontece?
De acordo com Patricia Camargo, do site Tempojunto, o desconhecimento das brincadeiras, a falta de jeito para brincar, a falta de tempo e o desânimo para brincar nos momentos de folga estão entre os principais fatores pelos quais os pais não brincam com seus filhos.
Quem tem filhos sabe que é normal as crianças pedirem para brincar o tempo todo (especialmente neste momento de pandemia, em que uma parcela dos pais permanece em home office e as crianças estão sem escola – ou seja, todos em casa full time, algo inédito). Mas também é normal não ter disposição ou até vontade todas as vezes.
Existe uma ideia estabelecida socialmente de que as mulheres (as mães aí incluídas) têm que estar sempre disponíveis, em especial para o marido e os filhos. Esse estigma pode gerar uma culpa muito grande. Além do sofrimento que causa, a culpa paralisa, na medida em que prende a pessoa em um ciclo de autossabotagem e ainda a impede de analisar o que pode ser reorganizado na rotina – de modo a atender aos outros e também a si.
Para muitas pessoas é aceitável dizer não ao próprio filho, desde que seja impossível realizar o pedido do pequeno (ex.: pegar uma estrela no céu). No entanto, se a mãe está em casa lendo um livro, parece injusto negar a brincadeira. Acontece que ao colocar seus desejos e necessidades em primeiro lugar, a mãe pode contribuir muito para a constituição da criança, de modo a ajudá-la a entender o sentido de limite e de individualidade.
Marcia Belmiro analisa que quando a criança só brinca caso haja um adulto disponível isso pode denotar que está muito dependente da relação com os cuidadores. “A criança pode estar perto, sem a mãe necessariamente estar envolvida na brincadeira. E mesmo que você esteja presente, permita que a criança crie a própria brincadeira. Uma das funções do brincar para a criança é a estruturação da psique, e o protagonismo é importante nesse processo.”
Marcia dá algumas orientações precisas para as mães, confira:
– Substituir o padrão mental de tenho que brincar com meu filho pelo de pode ser muito gostoso brincar. Ao se abrir para essa possibilidade, sua disposição tende a aumentar muito.
– Quando combinar que vai brincar com a criança, esteja presente de fato, sem celular nem ficar pensando em tudo o que está por fazer.
– Não é necessário ter uma meta de x minutos de brincadeira por dia, faça o que está a seu alcance (em termos de vontade e de possibilidade).
– Se você nunca tem vontade de brincar com seu filho, reflita sobre esse comportamento, que pode estar ligado às experiências de brincadeira na sua infância, e busque resolver isso internamente.
– Nem toda brincadeira tem que incluir um brinquedo. Fazer uma receita juntos, ler um livro, criar adivinhas, correr no parque, tudo isso pode ser brincadeira.
– Quando não souber do que brincar, lembre-se das atividades que você mais gostava na sua infância e proponha alguma delas a seu filho. Essa reconexão com a própria infância costuma ser muito benéfica para os pais.
“Pare agora e pense no que você pode alterar, inserir ou retirar da sua rotina, de modo a ter mais tempo para si e também para seu filho: seja fazer um novo acordo de divisão de tarefas com o pai da criança, seja definir um horário para parar de trabalhar, ou separar um tempo diário para brincar – não precisa ser muito, às vezes 15 minutos já faz uma diferença enorme”, comenta Marcia.
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