Antigamente, as mulheres cresciam com o sonho de se tornarem princesas. Para isso, tinham que ser belas, encantadas, frágeis e, claro, esperarem o grande amor. Ser mulher significava não ter direito a voto, só poder viajar desacompanhada com o consentimento do marido, em muitos casos ser impedida de estudar, posto que ser feliz e realizada dependia exclusivamente de um bom casamento – de preferência com muitos filhos.
Hoje, as mulheres têm acesso à educação e sustentam a si mesmas, mas muitas ainda esperam o príncipe no cavalo branco, a quem vão se dedicar por toda a vida. Ou seja, além de serem boas profissionais, devem ser boas esposas e boas mães, antenadas, por um lado, aos novos procedimentos estéticos e, por outro, aos novos eletrodomésticos.
A cultura do estereótipo
Cercadas por tantas expectativas inatingíveis, essas mulheres ensinam, pelo exemplo, suas filhas a serem a nova geração de princesas – mais uma culpa materna para carregar. As meninas de hoje (futuras mulheres) continuam, em grande parte, presas a estereótipos tradicionais que, apesar de sedutores na imaginação infantil, são extremamente prejudiciais para si mesmas.
Nos filmes atuais para crianças já existem as princesas “modernas”, que não condicionam sua realização a um parceiro (Valente, Moana, Frozen). Mas ainda assim são princesas, no sentido de que sua beleza é seu maior atributo – independentemente de sua personalidade, sua coragem e inteligência admiráveis.
Bem-sucedidas e em busca da barriga perfeita
Esse modelo, inculcado desde cedo nas meninas, pode afetar sua autoestima por toda a vida, segundo Naomi Wolf. A jornalista norte-americana lançou o livro O mito da beleza na década de 1990, e a obra, que permanece atual, foi relançada no Brasil em 2018.
Entre as constatações da autora – todas baseadas em extensa pesquisa –, algumas são assombrosas, como a de que mesmo as maiores executivas do mundo gastam um tempo considerável pensando em como acabar com a barriga (uma situação que, se transposta para o mundo masculino, não faz qualquer sentido).
No Brasil, desde 2013 existe a Escola de Princesas, um empreendimento que começou em Minas Gerais e hoje é uma franquia. Com o slogan “Todo sonho de menina é tornar-se uma princesa”, a proposta é dar a meninas de 4 a 15 anos aulas de etiqueta, culinária, costura, maquiagem, orientação sobre relacionamentos e sobre como se vestir adequadamente. O objetivo está bem claro no site da escola: “O passo mais importante na vida de uma mulher, sem dúvida nenhuma, é o matrimônio. Nem mesmo a realização profissional supera as expectativas do sonho de um bom casamento.”
“Se formos olhar para a história real – não a dos contos de fadas –, o que aconteceu com as princesas e rainhas? Ficaram à margem dos acontecimentos, enlouqueceram ou morreram tragicamente. É isso mesmo que queremos para a geração atual de meninas?”, provoca Marcia Belmiro.