Com frequência recebemos mensagens de mães dizendo frases do tipo: “Tenho um temperamento ruim. Quando vejo, já botei tudo a perder com meu filho!”
Essas mães se veem como pessoas “nervosas demais”, “irritadas demais”, “sem um pingo de paciência”. Para elas, não há teoria ou ferramenta prática que possa ajudá-las a serem as mães que desejam para seus filhos. Elas creem que carregam dentro de si um “defeito de fábrica”, uma característica terrível que as torna incapazes de promover mudanças positivas nessa que é a função mais importante de suas vidas.
“Outra reação muito comum a um comportamento indesejado (ex.: brigar com os filhos) é a pessoa esquivar-se dizendo ‘essa não sou eu’. Apesar de parecer bem diferente de quem diz que tem um ‘temperamento ruim’, são dois lados da mesma moeda: a falta de conhecimento sobre si. Cada pessoa tem seu temperamento, seu ‘tempero’. Isso geralmente é visto de forma negativa, mas na verdade é positivo. Sem isso, todos seriam iguais. A questão é como se lida com esse temperamento”, analisa Marcia Belmiro.
O que diz a ciência
Esse tipo de pensamento fatalista usado no exemplo acima (“sempre boto tudo a perder”) é chamado, na Teoria Cognitivo-Comportamental (TCC, uma linha da psicologia), de pensamento automático distorcido do tipo “catastrofização”.
Aaron Beck, fundador da terapia cognitiva, cunhou a seguinte frase: “Pensamentos automáticos são um fluxo de pensamento que coexiste com um fluxo de pensamento mais manifesto.”
Isso significa que esses pensamentos são uma experiência comum a todos nós. Na maior parte do tempo, mal os notamos e temos uma tendência a aceitá-los como verdadeiros. Acontece que muitos desses pensamentos representam uma distorção da realidade; eles aparecem de forma quase natural e automática em nossa mente, e podem nos sabotar.
Esses pensamentos são tão poderosos e arraigados que em alguns casos podem até representar “verdades incontestáveis” para nós (exemplo: eu não sou capaz, nunca vou conseguir, isso é impossível, eu não sou legal, não sou bonito…).
Eles se sustentam nas evidências criadas pela nossa mente e surgem mesmo sem nos darmos conta, quando nos vemos em uma situação parecida com aquela situação inicial que pode ter gerado os pensamentos.
Ao detectar um pensamento automático distorcido, é possível alterá-lo de alguma forma?
Marcia Belmiro responde:
“Os pensamentos automáticos distorcidos normalmente são negativos, mas existem técnicas e treinos que podemos aplicar de modo que esses pensamentos deem lugar a pensamentos alavancadores, para que novas atitudes sejam tomadas frente às situações que antes eram assustadoras. Para que isso aconteça, só existe um jeito: investir em autoconhecimento, com a ajuda de um coach ou até de um psicoterapeuta.”